O trabalho pode ser um grande foco de estímulo intelectual, prazer e realização. A satisfação de criar ou de contribuir com algo maior é uma das principais motivações da vida. Além disso, o ambiente corporativo traz muitos ensinamentos para todos nós, assim como as interações positivas com clientes, parceiros e colegas de trabalho.
O problema é que muitas vezes o trabalho tem um lado sombrio: rotinas extenuantes, esforços físico e mental excessivos, relações conflituosas. Quando isso acontece, o primeiro resultado é a queda da produtividade. Muitas vezes, isso leva à troca frequente de empregos ou simplesmente ao trabalho desmotivado. Ou pior, parte desses profissionais acaba por adoecer e ter graves complicações.
Há quase três décadas venho trabalhando em grandes corporações multinacionais. Hoje, sinto-me muito realizada e confortável com o que eu faço, mas nem sempre foi assim – não só comigo, mas com as pessoas ao meu redor. Via profissionais brilhantes trabalhando duro e desempenhando suas funções, mas nem sempre via uma conexão com o coração, com a paixão.
Acredito que o trabalho não deve ser motivo de desconforto e angústia. Outro caminho é possível. Mas como percorrê-lo?
Encontrar um modelo de trabalho que trouxesse ao mesmo tempo realização profissional e paz de espírito passou a ser algo central em minha vida. Nesse período de reflexão, comecei a me dedicar à prática de meditação, li vários livros e participei de um interessante retiro com Joe Dispenza, em Cancún, no México. Com ele aprendi a conectar coração e cérebro por meio da meditação e de outras práticas transformadoras. Entendi que a meditação e a atenção plena podem ter um impacto positivo na gestão do estresse, na melhoria da clareza mental e na inteligência emocional.
Por meio desses encontros, passei a praticar no trabalho o que tinha aprendido. Observei que houve uma mudança real já no primeiro ano, e sucessivamente ao longo dos dez anos seguintes. Uma ideia leva à outra e parti para uma sequência de estudos e vivências que foram modificando minha visão de trabalho.
Durante a pandemia, juntei-me ao Center for Compassion and Altruism Research and Education (CCARE) na Universidade de Stanford. O CCARE realiza pesquisas científicas para entender os benefícios da compaixão e como ela pode ser cultivada e aplicada em diversas áreas da vida. Seus programas, como o treinamento aplicado de compaixão (Applied Compassion Training, ACT), me ajudaram muito a integrar práticas compassivas na minha vida pessoal e profissional.
Depois, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), estudei como os princípios da psicologia positiva podem ser úteis para ajudar a aumentar o engajamento dos funcionários e reduzir o estresse e o burnout. Essa jornada de estudos – sempre em paralelo com minhas atividades profissionais corporativas – fez surgir muitas perguntas na minha mente. Será que é necessário deixar o coração na porta do escritório e só pegá-lo de volta ao final do expediente?
Ao me preocupar com isso, passei a olhar com mais cuidado todos aqueles que estão
a minha volta. E o que vi foi muito sofrimento. Pessoas que cumprem metas e são criativas, mas ao mesmo tempo convivem com dramas familiares, com a solidão ou outros problemas graves. O sofrimento e a dor são parte da vida, obviamente, mas o que fazemos para ajudar a pessoa que trabalha na mesa ao lado?
Todos nós podemos – e devemos – fazer algo para ajudar o outro a aliviar esse sofrimento. Essa constatação alterou por completo minha forma de gestão de equipes. O farol de esperança que encontrei tem um nome: práticas compassivas.
E a compaixão dá resultados. Pode ser medida, contabilizada, visualizada em planilhas e gráficos que mostram o aumento da satisfação das equipes e a queda de indicadores de desinteresse ou afastamento.
Tive o prazer de testemunhar muitos exemplos de como a compaixão pode transformar completamente o local de trabalho. Também vi líderes que vão além do básico para apoiar suas equipes e seus colegas que estendem a mão em momentos de necessidade. São atitudes que proporcionam um efeito dominó e fazem florescer um espaço de positividade.
O crescimento do interesse pelo tema da compaixão nos ambientes de trabalho acontece em um momento-chave da evolução corporativa. Fácil? Com certeza, não. Possível? Sem dúvida! E o mais importante: urgente!
Lisa Polloni
Este texto é uma adaptação da apresentação do livro O poder da compaixão no ambiente de trabalho.